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Unemat faz 1ª apresentação póstuma de dissertação da instituição; acadêmico morreu de covid

Unemat faz 1ª apresentação póstuma de dissertação da instituição; acadêmico morreu de covid
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Foi realizada ontem, no Câmpus Jane Vanini, da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), em Cáceres, a primeira apresentação póstuma de dissertação da Universidade com transmissão em tempo real. A apresentação do trabalho Território Chiquitano, ensino de uma história de resistência e protagonismo na fronteira Brasil/Bolívia (1970-2018) do professor e ativista indígena Esvanei Matucari Teixeira (foto), foi realizada pelo seu orientador, professor mestre e doutor em História, João Ivo Puhl.

Esvanei Teixeira era Chiquitano e egresso do curso de História da Unemat e então mestrando do Programa de Mestrado Profissional em Ensino de História (ProfHistória) na Unemat, em Cáceres, quando veio a falecer em 2021, em decorrência da Covid-19, quando já havia qualificado sua dissertação. A defesa póstuma realizada, agora em 2023, é um ato de reconhecimento in memoriam da Unemat ao produto científico gerado por Esvanei, antes de seu falecimento, prestada com a presença de seus familiares, amigos e colegas de profissão e também um ato de justiça ao pesquisador indígena.

A comissão de avaliação do trabalho, constituída pela professora da Universidade Federal de Goiás (UFG), Joana Aparecida Fernandes Silva, doutora em Antropologia Social, pela professora da Unemat, doutora em História, Marli Auxiliadora de Almeida, e pelo professor João Ivo, aprovou a dissertação.

“A evolução intelectual do Esvanei foi fantástica. Ele foi se revelando com pesquisas profundas e importantes para o povo Chiquitano e para a região de fronteira Brasil-Bolívia. Quando eu li a dissertação para a defesa que foi cancelada em 2020, por ele não ter passado na prova de proficiência, eu já o havia aprovado. Hoje é um dia muito importante, porque estamos fazendo justiça. Inclusive recomendo a publicação da dissertação dele. A dissertação Território Chiquitano, ensino de uma história de resistência e protagonismo na fronteira Brasil/Bolívia (1970-2018) tem mérito, tem qualidade e preenche os requisitos de outorga do título de Mestre”, frisou Joana Fernandes que também é pesquisadora do povo Chiquitano.

A professora e pesquisadora ainda levantou a questão de que a Língua Portuguesa deva ser considerada como língua estrangeira para os alunos indígenas, assim como já é considerada em outras universidades. Joana Silva, a professora com quem Esvanei pretendeu fazer mestrado na UFG, mas que declinou por conta da sua aprovação em 1º lugar no concurso para professor do estado de Mato Grosso também falou do autor da obra.

“O Esvanei é um exemplo de resistência como o povo dele. Um rapaz que lutou com dificuldades de saúde e que veio de uma formação deficitária, chegar aonde ele chegou e escrever como ele escreveu. Como professor ele problematiza a maneira como as escolas trabalham a diversidade cultural, ele está falando especialmente de Mato Grosso. As escolas para ele são locais de desigualdade cultural e são locais ricos que poderiam permitir a reflexão sobre igualdades. Ele diz assim: ‘A meu ver, a escola não consegue perceber as múltiplas diferenças existentes no espaço escolar e dificilmente conseguirá instrumentalizar os alunos para lidar com as diferenças’. É uma pena que a escola tenha perdido um professor como o Esvanei que poderia contribuir para uma política de convivência das diferenças e de enriquecimento da educação dos alunos. Mas ele deixa um legado, ele deixa uma obra” conclui Joana Fernandes.

A professora Marli Almeida ainda fez uma menção honrosa à Francisca Matucari, também egressa do curso de História da Unemat, e mãe do professor Esvanei. Indígena do povo Chiquitano, Francisca morreu vítima da Covid-19, aos 64 anos, no dia 12 de junho de 2021, apenas 21 dias após a morte do filho Esvanei que havia falecido no dia 22 de maio, aos 45 anos de idade.

“Essa é uma sessão que nos ensina a ser resistente. A dona Francisca chegou ao curso de História inspirada pelo filho e me disse ‘Eu vim fazer o curso para me conhecer mais’, e eu faço uma leitura étnica e de resistência de toda sua jornada. A referência de suas memórias como indígena, mulher e mãe, e a luta de Dona Francisca para que o filho se desenvolvesse intelectualmente”, destacou Marli.

A trajetória acadêmica de Esvanei foi percorrida na Unemat, onde além da realização do mestrado, fez graduação em História, (2000/2004) e especialização em Políticas Públicas e Controle do Social do Estado em (2010/2014), quando defendeu a monografia Índios não: Política de desterritorialização do povo Chiquitano em Vila Bela da Santíssima Trindade-MT (1970-2008).

Segundo a Unemat, Esvanei era atuante em movimentos sociais, ativista indígena com uma história de luta e enfrentamento. O professor ainda foi presidente do Sindicato dos Trabalhadores no Ensino Público (Sintep) da Subsede Vila Bela da Santíssima Trindade, presidente da ONG Juventude Organizada em Educação e Ação e vice-presidente da Associação dos Portadores de Necessidades Especiais de Cáceres (Apnec).

Participaram da sessão a coordenadora do ProfHistória professora Regiane Cristina Custódio responsável pela realização da sessão e seu antecessor, professor Osvaldo Mariotto Cerezer, que coorientou a dissertação.

Fonte: Só Notícias
Artigo original em > www.sonoticias.com.br

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