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Jerry Seinfeld repassa em livro sua trajetória no humor, piada por piada

Jerry Seinfeld repassa em livro sua trajetória no humor, piada por piada
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TETÊ RIBEIRO- FOLHAPRESS – A série “Seinfeld”, que teve nove temporadas entre 1989 e 1998, revelou seu protagonista e cocriador, o comediante americano Jerry Seinfeld, como um grande pensador e observador contemporâneo das minúcias da vida cotidiana. Um filósofo cômico, sofisticado e “lowbrow” ao mesmo tempo. Não à toa, a série é considerada por muita gente a melhor de todos os tempos.

“Será Que Isso Presta?”, seu novo livro, o primeiro em quase 20 anos -o último foi o infantil “Halloween”, de 2002, não lançado no Brasil-, fala sobre quase tudo. O contrário do que se costumava dizer sobre a série, famosamente “sobre o nada”, na definição de George Costanza, um dos personagens.

Estão no livro os pensamentos de Seinfeld sobre a infância, a adolescência, a vida adulta, o casamento, a paternidade. Mas também sobre bolas de algodão, Super-Homem, cavalinhos vermelhos de metal, saltos ornamentais e pelos no nariz.

A coleção de piadas é apresentada em ordem cronológica, separadas por décadas. São ideias que o comediante escreveu primeiro à mão, em blocos de notas de papel amarelo, do tipo que os advogados costumam usar.

Coisas que ele anotou pensando que podiam ser engraçadas, depois reescreveu, editou e voltou a reescrever. Quando considerou que uma delas estava pronta, juntou ao resto do material que tinha e apresentou para uma plateia de clube de comédia e, conforme a reação do público, voltou a reescrever e editar até que atingisse sua forma final.

“Até hoje não sei exatamente de onde vêm as piadas”, ele escreve na introdução do capítulo “Os Anos 1970”, o primeiro do livro. “Acho que de algum coquetel emocional de tédio, agressividade, intensa percepção visual e uma espécie de massinha de modelar mental que nos permite pegar o que vemos e transformar no que queremos que seja”, acrescenta.

O nome do livro remete a uma pergunta, ele diz, que todo comediante faz a outros comediantes sobre a viabilidade cômica de uma nova tirada -“será que isso presta?” ou, no original, em inglês, “is this anything?”. Seinfeld revela que guardou todas as páginas amarelas com as piadas criadas por ele desde que começou a escrever, em 1974.

Esse foi um ano decisivo para Seinfeld, que ainda morava com os pais, em Long Island, e não tinha escolhido o que ia fazer da vida. Mas então leu um livro e viu um filme, ambos sobre comédia stand-up, que o fizeram decidir que queria levar aquela existência “totalmente peculiar e absurda”.

O livro se chamava “The Last Laugh”, ou a última risada, escrito pelo jornalista Phil Berger, e trazia perfis e piadas de comediantes como Woody Allen, Lenny Bruce, Bill Cosby, George Carlin, Billy Crystal, Andy Kaufman e Steve Martin, entre outros. Também examinava como o humor feito em standups havia mudado desde 1920 até aquele momento.

O filme era “Lenny”, dirigido por Bob Fosse, em que Dustin Hoffman interpreta o comediante Lenny Bruce, famoso por incitar o público de seus shows a examinar os seus próprios preconceitos raciais, fazer críticas duras às religiões e falar muitos palavrões, assim como alguns termos em iídiche. Bruce chegou a ser preso por atos obscenos e morreu de overdose aos 40 anos de idade.

“Será Que Isso Presta?” não é exatamente uma biografia, mas funciona para conhecer mais a fundo a cabeça e a vida de Jerry Seinfeld. Como não podia deixar de ser, com piadas no lugar de declarações de amigos de infância, ex-professores e parentes distantes.

Tirada por tirada, o leitor consegue acompanhar a revelação de Seinfeld como um grande criador de piadas. Década por década, conhecemos a trajetória de sua vida, pela lente do que ele vai achando engraçado. Nos anos 1970, ele fala sobre a infância, os pais, cookies, cereal matinal e entrevista de emprego.

Nos anos 1980, lemos sobre banheiro de avião e incêndio em hotel, o que reflete o começo de uma carreira promissora, que o fazia viajar para se apresentar por várias cidades dos Estados Unidos.

Os anos 1990 são, curiosamente, o capítulo mais curto, bem quando sua série estava no ar e conquistava uma grande audiência, o transformando em uma celebridade. E aí ele fala de psiquiatra, dinheiro, faxineira e sobre ser magro, solteiro e alinhado, piada que gerou um dos episódios mais engraçados da série, em que ele e George são confundidos com um casal gay por uma jovem estudante de jornalismo.

“Não que tenha nada de errado sobre isso”, os personagens dizem, toda vez que se pegam reclamando sobre o engano da menina.

As tiradas são publicadas em sua forma final, quase como poemas, com linhas separadas nos lugares em que o autor percebeu que seria interessante fazer uma pausa. Dá quase para ouvir a voz de Seinfeld as apresentando em um palco. E quem já assistiu a seus especiais ou à série vai reconhecer muitas delas.

É um livro que não precisa ser lido na ordem, pode muito bem ficar ao lado da cama e ser aberto em qualquer página quando o dia pede um tico de humor e genialidade para terminar um pouco melhor do que começou.

SERÁ QUE ISSO PRESTA?
Avaliação Muito bom
Preço R$ 69,90 (480 págs.); R$ 46,90 (ebook)
Autor Jerry Seinfeld
Editora Intrínseca
Tradução Jaime Biaggio

Notícias ao Minuto Brasil – Cultura
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